Bloco & Bisel: ações e reflexões acerca da flauta doce nos ensino, pesquisa e extensão universitária
Publicado: 20/06/2024 - 15:40
Última modificación: 20/06/2024 - 15:42
O Bloco & Bisel é um amplo projeto que tem como foco a flauta doce e seu objetivo é promover a educação musical e difundir esse instrumento musical, a partir de três eixos de atuação. O primeiro visa formar crianças, adolescentes e jovens, oferecer formação continuada para professores e formar público de concerto. O segundo eixo concentra-se em produzir apresentações artísticas de alto nível, com diversos formatos de concertos públicos. E o terceiro eixo vislumbra preparar publicações de livros, partituras, banco de dados e textos informativos e acadêmicos. Nesse sentido, o objetivo geral dessa proposta é promover articulações entre o ensino de flauta doce na graduação em Música da UFU e sua produção artística, e a pesquisa acadêmica da proponente, por meio de três ações de extensão, cujos objetivos específicos são detalhados a seguir. A Temporada de concertos Bloco & Bisel pretende apresentar uma temporada anual de concertos gratuitos de flauta doce, com músicos de Uberlândia e convidados de excelência artística e, com isso, contribuir para a formação de público de concerto na cidade de Uberlândia. Essa ação também tem o intuito de ajudar a criar referências de escuta musical e contribuir no processo de desenvolvimento do interesse de jovens e adultos pela música e pela flauta doce e promover maior interação entre a Universidade e a comunidade local. De forma semelhante, os Concertos Didáticos Bloco & Bisel objetivam apresentar uma série de 10 concertos gratuitos do Grupo de Flauta Doce da UFU que, como o próprio nome diz, possuem caráter didático. Eles têm a intenção de auxiliar na difusão do repertório musical composto especificamente para conjunto de flautas doces em todo o seu repertório (renascentista, barroco e contemporâneo e de diferentes nacionalidades), bem como na divulgação da produção musical do Grupo de Flauta Doce da UFU. Os concertos serão destinados ao público infanto-juvenil, preferencialmente de escolas públicas, centros de formação e projetos sociais da cidade de Uberlândia, e contarão com comentários e notas de programa que contextualizam e explicam o repertório e os instrumentos utilizados. A intenção é que esta ação possa contribuir para ampliar a formação desse público, por meio das informações e do conhecimento musical e flautístico compartilhado, bem como ajudar a criar referências de escuta musical e contribuir no processo de desenvolvimento do interesse das crianças e jovens pela música. O Festival Bloco & Bisel, por sua vez, tem o objetivo de fortalecer a parceria do curso de Música/ Flauta doce da UFU com a comunidade de flautistas doces (professores e estudantes) dos doze conservatórios estaduais mineiros, principalmente os sediados no Triângulo Mineiro, e da Escola Municipal Cidade da Música. A série de atividades da programação de cada uma das edições do Festival, realizadas de forma presencial e híbrida, pretende oferecer subsídios que auxiliem na compreensão do estado da flauta doce nos conservatórios de Minas Gerais e contribuir para a formação de uma rede de colaboração em torno da flauta doce, envolvendo profissionais, estudantes e público de diferentes regiões do Estado. De forma mais pragmática e específica, cada edição do Festival tem o objetivo de produzir e apresentar palestras e mesas redondas, oferecer master classes e oficinas, e apresentar concertos que divulguem o curso de flauta doce da UFU e sua produção acadêmica e artística, bem como temáticas de relevância no universo da flauta doce. Espera-se que todas essas ações possam proporcionar reflexões que tenham desdobramentos na prática docente, acadêmica e artística dos envolvidos e que resultem na apresentação de comunicações em congressos do Brasil e exterior, bem como na publicação de livros e de artigos em periódicos revisados por pares. Finalmente, acredita-se que esta proposta possa fortalecer a parceria já iniciada com o GReCo (Grupo de Pesquisa em Música da Renascença e Contemporânea), da EACH/ USP. A justificativa se fundamenta em princípios norteadores da extensão universitária, baseados na função social da universidade pública brasileira e nas diretrizes que regem as práticas extensionistas da UFU, a saber: a interação dialógica da comunidade acadêmica com a sociedade configurada pelo diálogo, a troca de conhecimento, a participação e o contato com as questões sociais complexas contemporâneas; a formação cidadã dos estudantes integrada ao currículo; a produção de mudanças na própria IES e nos demais setores da sociedade a partir da construção e da socialização de conhecimentos; a articulação do ensino-pesquisa-extensão, ancorada num processo pedagógico único, interdisciplinar, educativo, científico, social, cultural e político; e o respeito às diferenças e à diversidade de saberes constituídos nos diferentes contextos sociais em que a UFU se fizer presente. Se justifica também pela necessidade de divulgar resultados de trabalhos do curso de flauta doce do IARTE/ UFU e tentar garantir desenvolvimentos futuros do curso e sua ampla atuação dentro do campo acadêmico e artístico brasileiro. Criados na década dos 1970, o Bacharelado e Licenciatura em flauta doce têm paulatinamente se fortalecido em decorrência de pesquisas que incorporam conhecimentos novos sobre os repertórios nos quais este instrumento musical se insere e mostram desenvolvimentos multidisciplinares e colaborações interinstitucionais. Trata-se de um instrumento versátil e seu repertório mais conhecido abrange a Renascença e o Barroco, mas depois de um hiato, foi redescoberta na virada do século XIX para o XX e voltou à cena musical contemporânea. No Brasil, há evidências de que tenha sido usada ainda no período colonial, mas sua difusão mais ampla em território nacional aconteceu no século XX, especialmente a partir de 1930, com a vinda de imigrantes europeus. Além desse repertório histórico, houve um aumento gradativo do número de composições para flauta a partir da década de 1960, tanto na Europa quanto no Brasil. É também neste contexto que a flauta doce assumiu um papel de destaque como instrumento musicalizador. Em Minas Gerais existe um número significativo de pessoas que se dedicam à flauta doce, seja em nível iniciante ou avançado de estudo. Nosso Estado é o único no país com uma rede de 12 conservatórios vinculados à Secretaria de Estado de Educação, na qual a flauta doce é uma opção para crianças, adolescentes, adultos e idosos, tanto na educação básica quanto no curso técnico. Se somarmos a Escola Municipal Cidade da Música de Uberlândia a essa rede, atualmente contamos com cerca de 80 professores que atendem mais de 3.000 estudantes de flauta doce. Apesar disso, a flauta doce ainda é desconhecida pelo grande público e só uma pequena quantidade de candidatos se inscreve para o processo seletivo da graduação em Música da UFU, que atualmente se destaca no Brasil na formação em flauta doce. Desde 2007, desenvolvemos diversas ações didáticas, de pesquisa e extensão para a promoção e divulgação de trabalhos realizados na universidade que contribuíram para a formação de público, na cidade e região. Destacamos, as 3 edições do Festival Bloco & Bisel que juntas alcançaram um público de cerca de 1300 pessoas, de todas as regiões do Brasil. Já por meio da realização de pesquisa de doutorado da proponente, foi possível angariar conhecimentos teóricos e práticos com relação a uma importante fase na história da flauta doce que é a Renascença. Além dos conhecimentos pioneiros adquiridos durante a realização de parte de seu estudo na Itália, o curso se nutre hoje da colaboração com o Grupo de Pesquisa em Música da Renascença e Contemporânea – GReCo – da Universidade de São Paulo dirigido pelo Dr. Cesar Villavicencio, colaborador desta proposta que realizou pós-doutorado na UFU. O GReCo se encontra hoje em fase de internacionalização com instituições da Itália e Suíça que certamente trará benefícios a este projeto no futuro. Assim, nossa principal justificativa é a elaboração de ações para o fortalecimento das parcerias iniciadas em 2021 com a comunidade de flautistas doces da rede de conservatórios estaduais mineiros, bem como por dar ampla atenção à pesquisa e interpretação avançadas, com músicos pesquisadores convidados para a realização de concertos, gravações e palestras para, assim, criar polos norteadores para os participantes do projeto. A metodologia está ancorada na relação dialógica entre teoria e prática musical e na indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. Todas as ações são resultantes de pesquisas da proponente, iniciações científicas (graduação e Ensino Médio) e trabalhos de conclusão de curso dos discentes, bem como dos conteúdos das disciplinas do curso de flauta doce da UFU. A abordagem metodológica proposta é a filologia prática na qual é crucial utilizar, principalmente, fontes primárias como cópias de instrumentos dos sec. XVI a XVIII e fac-símiles de tratados e partituras (em sua maioria, disponíveis gratuitamente em repositórios digitais), complementada com estudos atuais sobre a música antiga. O trabalho de pesquisa está organizado em três etapas: i) mapeamento, exploração e definição de um corpus de fontes musicais primárias para a análise e seleção de repertório; ii) categorização do material selecionado; e iii) pesquisa-ação com o Grupo de Flauta Doce da UFU que inclui a aprendizagem da leitura das partituras originais dos séculos XVI ao XVIII, ensaios, apresentações públicas e gravações do repertório selecionado, buscando articulações entre as orientações teóricas das fontes primárias e as decisões musicais do Grupo. De forma adicional, a metodologia caracteriza-se pela produção cultural das três ações e cada uma delas terá as etapas de pré-produção, produção e pós-produção.